O micélio surge como um jogo
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O micélio surge como um jogo

Jul 15, 2023

Quando você olha de perto, a natureza demonstra um talento incomum para soluções inovadoras. Uma descoberta científica emocionante prova isso mais uma vez. Os cientistas revelam que encontraram uma maneira de explorar os fungos, fazendo uso dos seus sistemas biológicos inerentes para criar materiais resistentes ao fogo. A principal força por trás desta inovação tecnológica é o micélio, um elemento fascinante que fica escondido sob a superfície visível dos fungos.

Famoso pelo seu papel vital na manutenção dos ecossistemas, o micélio é uma vasta rede subterrânea que transporta nutrientes, funcionando como a “internet” do mundo dos fungos. Utilizando a funcionalidade intrigante do micélio, uma equipe pioneira da Universidade RMIT em Melbourne modificou com sucesso sua composição química para desenvolver um material eficiente, sustentável e resistente ao fogo.

Liderada pelo professor associado Tien Huynh, especialista em biotecnologia e micologia, esta equipe cultivou folhas de micélio puro por meio da bioengenharia dos fungos. “Os fungos são geralmente encontrados em uma forma composta misturada com matéria-prima residual, mas encontramos uma maneira de cultivar folhas de micélio puro que podem ser colocadas em camadas e projetadas para diferentes usos”, explicou Huynh. Estas folhas de micélio puro podem revolucionar várias indústrias, desde o fornecimento de isolamento sustentável para edifícios até à criação de materiais ecológicos “semelhantes ao couro” para a moda.

O material à base de micélio possui uma característica única de retardamento de fogo. Quando exposto ao calor extremo ou ao fogo, o micélio se decompõe em uma camada protetora de carvão que protege eficazmente as camadas subjacentes do calor. De acordo com o professor associado Everson Kandare, especialista em inflamabilidade e propriedades térmicas de biomateriais, “quanto mais tempo e maior a temperatura em que o carvão de micélio sobrevive, melhor será seu uso como material à prova de fogo”.

Os benefícios dessas folhas de micélio vão além do seu uso potencial na indústria da construção. Ao contrário dos materiais isolantes tradicionais que liberam vapores tóxicos e prejudiciais quando queimados, este material não contém plástico e é ecologicamente correto.

“Os retardadores de fogo contendo brometo, iodeto, fósforo e nitrogênio são eficazes, mas têm efeitos adversos à saúde e ao meio ambiente. Representam preocupações de saúde e ambientais, uma vez que os agentes cancerígenos e as neurotoxinas que podem escapar e persistir no ambiente causam danos à vida vegetal e animal. O micélio bioderivado produz água e dióxido de carbono naturais”, sublinhou Kandare. Além do isolamento à base de micélio, outras opções sustentáveis, como o isolamento de cânhamo, também estão ganhando popularidade pelas suas propriedades térmicas e natureza ecológica. Estas soluções inovadoras estão a abrir caminho para um futuro mais verde e sustentável na indústria da construção.

Apesar da lenta taxa de crescimento do micélio representar um desafio para a produção escalonável, a equipe da RMIT vê isso como uma oportunidade para a sustentabilidade. A parceria com a indústria dos cogumelos poderia transformar os resíduos fúngicos num recurso valioso para a produção deste material resistente ao fogo, substituindo a necessidade de novas explorações agrícolas.

Assim, este desenvolvimento inovador abre um novo caminho a seguir, combinando ciência, tecnologia e natureza para aumentar a sustentabilidade e a segurança contra incêndios. A pesquisa da equipe RMIT promete um futuro mais seguro e sustentável, onde os materiais de segurança contra incêndio sejam derivados organicamente e inerentemente inofensivos.

A pesquisa Engenharia de fungos de micélio em um material de proteção térmica eficaz para formação de carvão via desacetilação alcalina foi publicada em Polymer Degradation and Stability.